15.4.10

Diferença entre notícia e reportagem



A notícia e a reportagem


«O jornalismo, na sua justa e verdadeira atitude, seria a intervenção permanente do país na sua própria vida política, moral, religiosa, literária e individual.

O jornalismo não sabe que há o abatimento moral, o cansaço, a fadiga, o repouso. Se ele repousasse, quem velaria pelos que dormem?
(…)
Há homens, há trabalhadores de ideias, filósofos, que fazem o mesmo áspero trabalho incessante: mas esses têm glória, que é como um bálsamo divino, derramado nos seus cansaços.

O jornalista não: trabalha, luta, derrama ideias, sistemas, filosofias sociais e populares, estudos reflectidos, improvisações, defesas eloquentes, nobres ataques da palavra e da ideia: pois bem, tudo isso passa, morre, esquece; aquela folha delgada e leve, onde ele põe o seu espírito, a sua ideia, a sua consciência, a sua alma, perde-se, desaparece, some-se sem esperanças de vida, de duração, de imortalidade, como uma folha de árvore ou como um trapo arremessado ao monturo.»

Eça de Queiroz , in «Distrito de Évora»


A notícia


A notícia caracteriza-se por ser uma narrativa breve, eminentemente informativa, de um acontecimento real e actual com interesse para um público vasto.

Destinada à difusão pelos vários meios de comunicação social, esta narrativa deve ser apelativa e eficaz. Cabe ao seu redactor o enquadramento dos factos e a percepção rigorosa daquilo que é essencial, sem nunca esquecer certas regras de codificação, como o uso de vocabulário claro, simples e objectivo.

Na notícia predomina o modo indicativo, porque este modo exprime acontecimentos ou estados reais. Os modos conjuntivo e condicional não são tão utilizados, já que encaram o facto expresso pelo verbo como algo incerto ou eventual, inspirando dúvida no leitor.

Outras características de morfologia e sintaxe da notícia:

- frases curtas, pouco complexas e de tipo declarativo;

- nível de língua corrente;

- função informativa da linguagem;

- disposição da informação essencial no início da frase;

- utilização frequente de nomes e de verbos de acção e movimento em detrimento de adjectivos, principalmente dos valorativos (que emitem juízos de valor).


Estrutura da notícia


Titulagem


Antetítulo - indica o assunto geral. Nem sempre está presente nas notícias.

Título - dá conta do facto principal. Deve ser curto (não deve conter mais de dez palavras) e atractivo.

Subtítulo - refere aspectos particulares relevantes. Nem sempre está presente nas notícias.


Os títulos da notícia


Os títulos das notícias são extremamente importantes para captar a atenção do leitor e despertar a sua curiosidade para a leitura integral do texto; por isso, há diversas técnicas que sustentam a elaboração de títulos originais:

- frases interrogativas;

- aproveitamento de nomes de programas de televisão;

- expressões populares;

- aproveitamento de nomes de filmes;

- metáforas;

- frases nominais;

- provérbios.


Lead (parágrafo-guia ou cabeça)


Corresponde ao 1º parágrafo, no qual se exprime o sentido global da narrativa. Responde às quatro perguntas essenciais:

Quem? - os agentes da acção.

O quê? - o que aconteceu ou vai acontecer.

Onde? - o local do acontecimento.

Quando? - a data.


Corpo da notícia


Corresponde aos restantes parágrafos. Desenvolve os acontecimentos, respondendo às perguntas:

Como? - as circunstâncias.

Porquê? - os motivos e as razões.

Para quê? - a finalidade (esta questão nem sempre é respondida e muitas vezes funde-se com o Porquê?).


A reportagem

A reportagem é uma narrativa longa que resulta de um processo de investigação e documentação intenso (por vezes tem por base uma notícia).

O repórter desenvolve de forma detalhada um determinado tema, deixando, normalmente, transparecer a sua interpretação pessoal dos factos.

A reportagem é frequentemente acompanhada de fotografias e testemunhos que reforçam o seu carácter documental.

É redigida num estilo cuidado, mas acessível. A transmissão de informação deve ser feita de uma forma detalhada e objectiva daí que exija do repórter poder de selecção e organização dos dados recolhidos e uma perspicaz interpretação dos factos.

A reportagem pode ser divulgada na imprensa na televisão ou na rádio.

É um género jornalístico tendencialmente longo e, por isso, necessita de recorrer a determinados mecanismos, que o tornem apelativo.

As reportagens televisivas usam recursos multimédia variados como a imagem e o som, pelo que se tornam facilmente apelativas.

As reportagens de imprensa, recorrem a técnicas gráficas e textuais tais como o lead que apresenta o assunto a desenvolver e resume as informações essenciais da reportagem; o corpo que desenvolve os acontecimentos, incluindo comentários do jornalista e pequenas entrevistas; o subtítulo que centra a atenção do leitor sobre aspectos particulares relevantes (no desenvolvimento aparecem, muitas vezes, subtítulos que facilitam a leitura e antecedem cada uma das partes fundamentais da reportagem); as fotografias que funcionam como complementos da informação (elementos de apoio à informação escrita).


A reportagem é um texto jornalístico redigido num registo de língua corrente, porque se dirige a um público vasto e heterogéneo.

O seu discurso é essencialmente objectivo, se bem que perpassado por marcas de subjectividade quando o repórter transmite a sua interpretação dos factos.

Centra-se sobre uma acção, um acontecimento ou uma personalidade que não o repórter, e, por isso, utiliza a terceira pessoa gramatical.

A função da linguagem predominante é a informativa, já que o seu objectivo central é a transmissão de informação.

A informação veiculada é aprofundada, já que desenvolve um tema de grande interesse.